segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Vale

Telas inacabadas de cores vivas, postas em desalinho pelo quarto, como se Valéria fizesse várias coisas a prestações, retiro o termo 'como' ,ela assim as faz mesmo.
Desde pequenina vivia regada a arte, via a mãe se apresentar em teatros e seus tios pintarem quadros de arte moderna, a menina, um pequeno botão, rodopiava com seu vestido com estampa de rosas, bailava como se pétalas saíssem dela, o sorriso largo, de amostra abundante, combinava com seus cachos independentes como o sol no cenário de verão. Lela, ainda, assim chamada, se banhava em tinta guache nas tardes de domingo, sem outras crianças por perto, ela criava pessoinhas no papel e no mesmo papel criava a felicidade para elas.
Lelinha cresceu e as telas de Valéria são como portas para ela e se muitas vezes ela não termina é porque não encontrou o a chave que é dela, as pessoas não estão mais no papel e a tinta guache não colori o mundo inteiro, sai com água, Valéria mais uma vez se torna Lela e tem planos mirabolantes de jogar uma bomba gigante de tintas no mundo inteiro, como fazia com as bombinhas de festa junina meladas de tinta estourando no papel, ela quer um mundo como um papel, branco, de paz, uma A4 onde caiba todas as pessoinhas e os sonhos delas, mas enquanto não dá pra fazer a vista, ela cultiva cores a prestações.

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