domingo, 11 de março de 2012

Caso

Pele em pele

Que as vezes me repele

Pernas em um jogo

Sincronia proibida

Calor e fogo

Cena colorida

Eles vêem colorido

No escuro não vejo cor

Dança

Corpo

E quem sabe o amor

Vergonha morta

Linguagem torta

Passeio das mãos

Um acelerar da pulsação

Sussurrar

Faltar o ar

Rir lá dentro

Sorrir de boca aberta

Congela-se momento

Chega-se à meta

Mirabolante

O bater da porta defeituosa que só fechava quando se trancava a chave,incomodava, mas Soraia tinha preguiça demais para se habilitar a levantar da cadeira em que ela quase se deitava, ela comia chocolates americanos e assistia seu seriado inglês predileto, em quarenta e alguns minutos ela não se preocupava com suposta vida que perdia lá fora, sozinha em casa com a cadela dormindo ao lado, a garota sentia falta do barulho dos parentes, o mesmo barulho que ela havia odiado quando lhe acordou de manhã bem cedo.
A dor de cabeça que lhe perseguia por semanas já parecia parte do seu espírito, já a dor no seu coração, aquela já lhe transtornava o espírito. Laia, quando pequena, tinha mania de ficar em baixo da mesa comendo laranjas, quando achava uma azeda tinha orgulho de não fazer caretas, ela tinha orgulho das coisas simples, como elogiarem um desenho seu, tinha orgulho da felicidade momentânea de alguém que saboreou a comida que ela preparou, tinha orgulho da beleza de um bolo que ela confeitou ou de uma foto de ângulos que só pessoas que a entendem acham o máximo como a mesma. Para Soraia, que se travestia de complexidade, a felicidade era simples.
Ingressos de cinema comprados, Soraia esperava sua melhor amiga, Raíssa. Assistiriam uma comédia romântica, para variar, já que as duas ficavam felizes de chorar juntas vendo um drama, quanto mais real,melhor. Durante o filme Soraia via no rosto de Raíssa o sorriso que ela queria que fosse causado por ela, apesar de que muitas vezes o era, mas não da forma como ela desejava e como ela o desejava. A pipoca do cinema com gosto de isopor fazia Soraia desejar um fogão portátil, sem falar no gosto industrial do sanduíche do mc donald's que lhe faziam querer seus sanduíches caseiros, no momento ela queria o seu inventado sanduíche de purê de batata, frango e queijo, mas parou por um momento de viajar e logo subiu em outro trem e pensou: 'Por que eu viajava em comidas mesmo? Não há nada que eu quero mais do que o sorriso da acompanhante que viaja comigo.'