quinta-feira, 10 de março de 2016

Carta de Quase Suicídio

Sei que é muito difícil alguém saudável sentir-se da mesma forma que uma pessoa doente, mesmo tentando se colocar no lugar dela, nas últimas semanas tem se falado muito em suicídio, como se falou também no ano passado. Já faz quase um ano que Ana Cristina se foi, uma amiga de muitos, inclusive minha, quando ela partiu todo mundo se perguntava o porquê, sem encontrar uma resposta, já eu eu dentro de mim, a sabia.
Há muitos anos, muitos mesmo, acho que desde que tenho consciência de mundo, tenho travado comigo mesma uma luta que não parece ter fim e sempre acabo vendo uma única saída. Antes que você me diga pra procurar ajuda, digo que muito já procurei, mas digo também que terapias e medicamentos são torturantes, não é fácil chegar lá e explicar a alguém desconhecido o buraco negro que se tem na mente, remédios te deixam dependente e qualquer dependência mata a liberdade. Em tempos de tantos casos seguidos que não é muita novidade nesta cidade, venho por meio deste texto compartilhar com vocês um pouco da minha dor, não me sinto corajosa em fazer isso, me sinto um tanto útil em tentar fazer muitos entenderem o que é ter depressão.Não sinto vergonha de ter depressão, não foi uma coisa que eu criei pra mim, claro que eu não quero isso, mas eu tenho e alguém ao seu lado pode ter. A seguir estará descrito um texto que eu escrevi quando tive uma crise de depressão muito severa, não tenho sorte de está viva, tenho pessoas que me amam.
21 de Julho de 2015, Teresina- PI
"Minha visão está turva, tenho sentido tonturas a mais há alguns dias, sempre senti, sempre senti dores de cabeça e em diversas outras partes do meu corpo, mas nenhuma delas se compara a dor que eu sinto na minha alma, ela é tão profunda que nenhuma ciência no mundo conseguiria explicar, porque eu que a sinto, não consigo.
Nada de tão problemático tem os fatores que compõem minha vida, resta a conclusão de que o real problema é ser quem eu sou, o ser não adaptável a esse planeta. Por mais dor que eu sinta eu não consigo entender porque a dor se tornou provas por quais as pessoas tem que passar, essa teoria de que com a dor se aprende, eu não suporto assimilar, sofrimento é ruim e apenas ruim.
Já se passam quatro dias desde que escrevi o primeiro parágrafo, eu sei porque vi no meu celular, mas minha mente tem perdido a noção de dias, de tempo, não sei dizer o que foi que aconteceu ontem ou antes disso, está tudo embaralhado.
Me pergunto: Como pode um ser humano chorar tanto? Isso só pode ser uma doença mesmo e daquelas graves, você não luta contra um vírus, bactéria ou algo assim, você luta contra si mesmo. Cientificamente falando, não há uma causa padrão  para tudo isso, tenho quase certeza, que nós, portadores, já nascemos com isso e então você não vive, você suporta a vida, as tentativas de se adaptar soam como fingimento, um esforço repetitivo para sair da dor e esse próprio esforço já dói, então chega uma hora que esforça-se já não faz mais sentido.
O real problema não é a gente, são os outros, não é a nossa dor, é a dor que a gente espalha por conta da nossa.
Hoje é domingo, acordei com o som de músicas românticas americanas na minha janela, nada mais apropriado para alguém com depressão. Tenho tentado manter a calma, por isso tenho evitado conversas, porque se eu começo a chorar, só sei um jeito de parar, causando dor por fora, cada vez mais tenho mais coragem e tal coragem é perigosa.
Não quero abraços agora, se conversas me desabam, imagina só os abraços. Não faço ideia de como cheguei a tal ponto, não sinto apetite, meu corpo pede por comida, mas eu não quero comer e quando como parece que perdi uma guerra e engolir um alimento parece um castigo.
Entendo que as pessoas não entendam e achem que tudo isso é fase, egoísmo ou bobagem. Mas dessas fases muita gente não passa.
O desespero é maior em pensar no desespero que eu sentiria se as pessoas que amo fizessem o que eu quero fazer."