segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Vale

Telas inacabadas de cores vivas, postas em desalinho pelo quarto, como se Valéria fizesse várias coisas a prestações, retiro o termo 'como' ,ela assim as faz mesmo.
Desde pequenina vivia regada a arte, via a mãe se apresentar em teatros e seus tios pintarem quadros de arte moderna, a menina, um pequeno botão, rodopiava com seu vestido com estampa de rosas, bailava como se pétalas saíssem dela, o sorriso largo, de amostra abundante, combinava com seus cachos independentes como o sol no cenário de verão. Lela, ainda, assim chamada, se banhava em tinta guache nas tardes de domingo, sem outras crianças por perto, ela criava pessoinhas no papel e no mesmo papel criava a felicidade para elas.
Lelinha cresceu e as telas de Valéria são como portas para ela e se muitas vezes ela não termina é porque não encontrou o a chave que é dela, as pessoas não estão mais no papel e a tinta guache não colori o mundo inteiro, sai com água, Valéria mais uma vez se torna Lela e tem planos mirabolantes de jogar uma bomba gigante de tintas no mundo inteiro, como fazia com as bombinhas de festa junina meladas de tinta estourando no papel, ela quer um mundo como um papel, branco, de paz, uma A4 onde caiba todas as pessoinhas e os sonhos delas, mas enquanto não dá pra fazer a vista, ela cultiva cores a prestações.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Meu cavalheiro

Ele sorrir com todos os músculos de sua face, mesmo achando que lhe falta músculos no resto do seu corpo, andando bem vestido, vestido bem para ele, seus fones de ouvido grudados na orelha parecem até uma parte do seu corpo esbelto, todas as cores parecem transbordar em seu coração, tantas cores, como na capa do CD de uma das suas bandas preferidas.
Quando todos estão dormindo,o garoto, pretenso homem, tem a madrugada aos seus pés, sentando com as pernas estiradas em seu quarto, onde cavalheiros a postos nas pratilheiras lhe guardam, afinal uma alma de caranguejo mergulhado em caldo de peixe precisa de cuidado e proteção, não que tal alma não seja forte, mas toda sua fortaleza está no amor , as pinças do caranguejo se agarram com toda força em sentimentos bons, então, que bom que esse caranguejo existe.
No mês do escorpião,eu,um peixe, conheci o caranguejo e ele me pareceu um ponto luminoso no meio da praia sem luar, juntamos nossas águas,nossas idéias,nossos dramas e corações aquáticos. Fizemos um mar.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Noventa e um pouco mais


Tenho 20 anos, quer dizer,estou prestes a completar 21 em fevereiro, para a minha alegria depois do carnaval, acredite, não é nada legal fazer aniversário em pleno carnaval, sabe aquelas festas com tudo o que você quer quando se é criança, eu tive algumas, na minha festa de 9 anos com a temática do piupiu (onde eu estava com a cabeça?) tinha de tudo inclusive um bolo branco com florzinhas coloridas e em cima uma gaiola de alumínio com o piupiu de marzipã no balanço,lembro como se fosse ontem, a festa tinha de tudo, menos convidados, todos viajavam, era carnaval.
Minha memória é ótima, mas como tudo tem seu lado bom e ruim,com a minha memória não é diferente, percebe-se logo aqui, quando começo relatando um pequeno trauma, acho até graça de como as lembranças ruins me parecem mais detalhadas, não que não me lembre bem das boas, lembro sim, como quando tinha 6 anos de idade e tudo parecia mais empolgante, como ler, afinal havia acabado de aprender e assim lia qualquer palavra que passava a minha frente, placas, anúncios nas ruas, nada me escapava. Era dezembro de 1997 e em uma tarde apressada saia de casa para alugar meu vestido de colação de grau, com direito a luvas,tiara de 'brilhantes' e sapatos brancos, dias depois estava as 8 da manhã no salão de beleza para que tentassem realizar a impossível missão de cachear os meus 'cabelos de petróleo' (como chamava minha tia) e então acabei saindo de lá as 3 da tarde com um quilo de laquê, milhões de presilhas e pseudos cachos. A noite seria todas aquelas apresentações,orações e 'blablablas' e no final a tão esperada valsa com meu pai, que havíamos ensaiado por semanas com inúmeros rodopios e sorrisos alegres e ali era hora, arranjamos um canto,pois só ali havia o espaço necessário, então, com uma pequena platéia ao nosso redor de professoras e familiares, estreamos a valsa mais linda do mundo, pelo menos para mim. Lembro da cara do fotografo, baixinho e com bigodes que congelou o tempo e esse tempo materializado na fotografia que reavive minhas boas memórias, é esse tempo que passa e me cresce, que leva o que eu era,que faz o que eu sou, que dança valsa comigo todos os dias, estreia um novo sol, anuncia novas leituras da vida e é ai que eu vejo que não aprendi a ler com 6 anos, eu aprendo a ler todos os dias.