segunda-feira, 16 de maio de 2016

Erotize-s Mais

Desmanche

Te joguei na cama
Findando os movimentos
Do nosso jogo mental
Agora sem drama
Super atentos
Nossos corpos, carnaval

Um espelho no teto
Refletindo tua silhueta nua
Meu olhar inquieto
Te devorando crua

A força te agrada
A delicadeza te afasta
Vontade escancarada
Desejo que te arrasta

Flor de espinhos que me arranha
Fogo alto que me ganha
Vergonha jogada fora
Minha língua te decora

Louca
Minha boca em tua coxa
Acesa em corpo e mente
Não apagará tão cedo
Te jogarei na cama novamente

Susurro

O som da tua boca me faz tremer
Bem baixo
Me faz explodir
Logo, sou toda, querer
Devaneios, delírios
Nos trazem aqui

Tua boca em meu ouvido
Você em minhas mãos
Grito comprimido
Meus pés longe do chão

Levitando em um labirinto
Seu som me leva ao céu
Em cada canto eu te sinto
Como, sinto o teu mel

Os mais doces gemidos
Derretem desenfreados
Gozo unido
Meu amor descompassado

Terço

Conecta nela
Extraia tudo
Revela
Respira fundo
Mergulha
Se orgulha
Do prazer exagerado
Não, ao pudor
Sim, ao pecado

Agora, reze
Deve orar
Toda boca que se preze

Agora, escuta
Nada de oração curta
Tenha foco
Tenha fé
Teu nome eu envoco
Ajoelhe-se aos meus pés


Páscoa

Traia seu orgulho
Me dê um beijo
Padeça sobre meu corpo
Em um dia derradeiro

Me castiga com tuas verdades
Me liberta com tua luz
Me guarda em teu peito 
Ao teu seio me conduz

Me fecha em teu quarto
Quem sabe por três dias
Me transforma em um fato
Talvez, alegria

Não me abandone
Meu coração não sabe o que faz
Em vão, diz o nome
Que lhe tira a paz

Carregue a cruz
O corpo que lhe seduz
E no fim só resta então
Sair e lavar as mãos


Medieval

Juntos
Bem juntos
Homens bem ao fundo
A contrariar o mundo
Que os julgam imundos
Exploram
Adetram 
Devastando
Como, um vulcão
Alastrando o fogo
Dada as mãos

Um homem dá as costas ao outro
Não é abandono
Logo são loucos
Logo são donos
Donos do sufoco
Querem adiar
Sufocam o gozo
O prazer impiedozo
Que lhes faz urrar

Eles se beijam
Fieis ao que são
Barbas misturadas
Duelo de espadas
Um amor em contra mão

Veja como é belo
O breve espaço
Voraz e singelo
Entre dois machos


Chave

Elas chegaram em casa
Pararam nas escadas 
Demoraram em um beijo
A parede pressionada
Roupas amassadas
Loucas de desejo

Não paravam as mãos
Bocas aceleradas
Como a pulsação
Peles se sentiam
E logo esqueciam
Da localização

Cada barulho assustava
Mas nada as parava
Era melhor continuar
O cheiro delas tomava conta do andar

A madrugada estava fria
Os corpos muito quentes
Nos degraus a energia
De serem diferentes

Tudo começou sem marcar hora
Elas se olharam
Em silêncio concordaram
É agora

quinta-feira, 10 de março de 2016

Carta de Quase Suicídio

Sei que é muito difícil alguém saudável sentir-se da mesma forma que uma pessoa doente, mesmo tentando se colocar no lugar dela, nas últimas semanas tem se falado muito em suicídio, como se falou também no ano passado. Já faz quase um ano que Ana Cristina se foi, uma amiga de muitos, inclusive minha, quando ela partiu todo mundo se perguntava o porquê, sem encontrar uma resposta, já eu eu dentro de mim, a sabia.
Há muitos anos, muitos mesmo, acho que desde que tenho consciência de mundo, tenho travado comigo mesma uma luta que não parece ter fim e sempre acabo vendo uma única saída. Antes que você me diga pra procurar ajuda, digo que muito já procurei, mas digo também que terapias e medicamentos são torturantes, não é fácil chegar lá e explicar a alguém desconhecido o buraco negro que se tem na mente, remédios te deixam dependente e qualquer dependência mata a liberdade. Em tempos de tantos casos seguidos que não é muita novidade nesta cidade, venho por meio deste texto compartilhar com vocês um pouco da minha dor, não me sinto corajosa em fazer isso, me sinto um tanto útil em tentar fazer muitos entenderem o que é ter depressão.Não sinto vergonha de ter depressão, não foi uma coisa que eu criei pra mim, claro que eu não quero isso, mas eu tenho e alguém ao seu lado pode ter. A seguir estará descrito um texto que eu escrevi quando tive uma crise de depressão muito severa, não tenho sorte de está viva, tenho pessoas que me amam.
21 de Julho de 2015, Teresina- PI
"Minha visão está turva, tenho sentido tonturas a mais há alguns dias, sempre senti, sempre senti dores de cabeça e em diversas outras partes do meu corpo, mas nenhuma delas se compara a dor que eu sinto na minha alma, ela é tão profunda que nenhuma ciência no mundo conseguiria explicar, porque eu que a sinto, não consigo.
Nada de tão problemático tem os fatores que compõem minha vida, resta a conclusão de que o real problema é ser quem eu sou, o ser não adaptável a esse planeta. Por mais dor que eu sinta eu não consigo entender porque a dor se tornou provas por quais as pessoas tem que passar, essa teoria de que com a dor se aprende, eu não suporto assimilar, sofrimento é ruim e apenas ruim.
Já se passam quatro dias desde que escrevi o primeiro parágrafo, eu sei porque vi no meu celular, mas minha mente tem perdido a noção de dias, de tempo, não sei dizer o que foi que aconteceu ontem ou antes disso, está tudo embaralhado.
Me pergunto: Como pode um ser humano chorar tanto? Isso só pode ser uma doença mesmo e daquelas graves, você não luta contra um vírus, bactéria ou algo assim, você luta contra si mesmo. Cientificamente falando, não há uma causa padrão  para tudo isso, tenho quase certeza, que nós, portadores, já nascemos com isso e então você não vive, você suporta a vida, as tentativas de se adaptar soam como fingimento, um esforço repetitivo para sair da dor e esse próprio esforço já dói, então chega uma hora que esforça-se já não faz mais sentido.
O real problema não é a gente, são os outros, não é a nossa dor, é a dor que a gente espalha por conta da nossa.
Hoje é domingo, acordei com o som de músicas românticas americanas na minha janela, nada mais apropriado para alguém com depressão. Tenho tentado manter a calma, por isso tenho evitado conversas, porque se eu começo a chorar, só sei um jeito de parar, causando dor por fora, cada vez mais tenho mais coragem e tal coragem é perigosa.
Não quero abraços agora, se conversas me desabam, imagina só os abraços. Não faço ideia de como cheguei a tal ponto, não sinto apetite, meu corpo pede por comida, mas eu não quero comer e quando como parece que perdi uma guerra e engolir um alimento parece um castigo.
Entendo que as pessoas não entendam e achem que tudo isso é fase, egoísmo ou bobagem. Mas dessas fases muita gente não passa.
O desespero é maior em pensar no desespero que eu sentiria se as pessoas que amo fizessem o que eu quero fazer."